Caio Fernando de Abreu: Demolição da casa onde morava o escritor representa desrespeito ao patrimônio cultural gaúcho

by | Jul 20, 2022 | Tudo é livro, Últimas Notícias | 0 comments

Caio Fernando de Abreu foi um grande escritor gaúcho. Em uma de seus inúmeros textos ele falou sobre a casa onde morava, algo que era recorrente na sobras que escreveu durante o tempo que morou no sobrado do Menino Deus. Na obra A Última Carta para Além Dos Muros  não foi diferente “os muros continuam brancos, mas agora são de um sobrado colonial espanhol que me faz pensar em García Lorca; o portão pode ser aberto a qualquer hora para entrar ou sair; há uma palmeira, rosas cor-de-rosa no jardim. Chama-se Menino deus este lugar cantado por Caetano, e eu sempre soube que era aqui o porto.” Infelizmente não há mais os muros brancos do sobrado, nem o portão ou muito menos as rosas do jardim, o que se encontra no lugar da casa nº12 no bairro cantado por Caetano são apenas escombros da história de um dos maiores escritores gaúchos.

 

 

Na tarde de segunda-feira, 18 de julho de 2022 os moradores da Rua Oscar Bittencourt do bairro Menino Deus na cidade de Porto Alegre -RS presenciaram uma verdadeira atrocidade contra a cultura do nosso país. A casa do escritor já falecido Caio Fernando de Abreu foi demolida sem o menor peso na consciência. Um lugar que tinha todo o potencial para se tornara um incentivo para novos leitores e escritores, agora se encontra em ruinas graças ao rolo compressor que é o mercado de interesses.

Segundo reportagens postadas no site Sul21. Assim que ativistas do setor cultural e de defesa patrimonial tomaram conhecimento da possibilidade de demolição da casa do escritor. Imediatamente começaram a organizar um ato para que pudessem demostrar seu desconforto e indignação com tal decisão. O ato aconteceu ontem (19/07) as 12h em frente a antiga casa de Caio Fernando de Abreu.

Infelizmente era tarde demais, já que a casa foi demolida no dia anterior, o sobrado veio ao chão algumas horas após a ação popular ter sido protocolada na justiça. Quando os protestantes chegaram em frente à casa só restou lamentar pela demolição ter ocorrido antes do ato que haviam planejado pudesse repercutir em novos desdobramentos.

 

 

Como forma de despedida algumas pessoas pegaram destroços da casa para guardar como recordação, já que o próximo projeto arquitetônico que estiver no nº 12 da rua Oscar Bittencourt não deve lembrar em nada a casa do escritor.

A alguns anos o sobrado já não estava mais em posse da família de Caio. Em 2010, membros do coletivo Nuances realizaram uma mobilização chamada “Salve a Casa do Caio Fernando de Abreu” juntamente com o poder público para que o sobrado fosse tombado e se tornasse um centro cultural. Mas ainda nessa época o mesmo acabou sendo leiloado e hoje em dia pertence a um casal de dentistas que em abril deste ano recebeu licença da prefeitura para demolir o imóvel.

 

 

Segundo fontes do site Sul21, o responsável técnico pela demolição não tinha conhecimento que aquele endereço havia pertencida a Caio Fernando de Abreu. O mesmo não soube informar o que será construído no lugar do sobrado que esta pressente em tantos textos do escritor porto alegrense.

O celebre escritor gaúcho foi embora de Porto Alegre durante a sua juventude e retornou para a capital alguns anos depois, após descobrir que estava com HIV. Caio passou seus últimos anos de vida neste sobrado com arquitetura espanhola. Ali escreveu diversas obras, muitas vezes citando características da casa ou do seu bairro, alguns dos textos escritos nesse período foram publicados de forma póstuma, como por exemplo as cartas onde ele relatava a sua rotina na casa nº12. Durante sua estadia neste endereço, também publicou o livro “Ovelhas Negras”.

 

 

Por hora não se sabe o que será construído no nº12 da rua Oscar Bittencourt em Porto Alegre, mas de forma alguma a história de Caio Fernando de Abreu será apagada. Estará sempre presente em suas obras e no coração de seus muitos faz e amigos. Que com essa triste situação possamos aprender a dar valor a nossa cultura e a nossa história.

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