Ataque dos cães: conheça Thomas Savage, autor do livro que originou o filme

by | Abr 6, 2022 | Entretenimento, Tudo é livro, Últimas Notícias | 0 comments

Ataque dos cães, filme estrelado por Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst, recebeu 12 indicações ao Oscar e foi o recordista na edição 2022 da premiação. Na sequência Duna, outra adaptação para os cinemas de uma obra literária recebeu 10 indicações a estatueta. E você não leu errado, pois assim como Duna, Ataque de cães também foi inspirado em obra de um escritor americano Thomas Savage, foi casado com a também autora Elizabeth Fitzgerald. Savage se debruçou sobre hipocrisias do interior americano no século XX, usando isso como base da sua obra.

 

História do filme

A história do filme acompanha os irmãos Phil, um caubói grosseiro e seu oposto George, um homem tímido e educado. Quando George se casa e traz a mulher para viver com eles no rancho, Phil não mede esforços para que ela e o filho, Peter, se sintam bastante desconfortáveis. A trama de Ataque dos Cães poderia ser um faroeste clássico, se não fosse a explicita “denuncia” de Savage a hipocrisia da época, o que torna o filme uma obra narrativa a ser estudada, inclusive a partir da vida do autor do livro que o inspirou.

 

Thomas Savage

Nascido em 1915 na cidade de Salt Lake City, em Utah, o escritor se casou aos 24 anos com a também autora Elizabeth Fitzgerald. Os dois foram apresentados pelo pai da garota, o professor de literatura Brassil Fitzgerald, que deu aula para Savage na Universidade de Montana. Savage era gay, e, segundo relata o autor O. Alan Weltzien na biografia Savage West, de 2020, manteve casos extraconjugais com homens durante toda a vida. Sua esposa, inclusive, sabia sobre a sexualidade do marido antes mesmo do casamento. A relação entre eles, ao que tudo indica, não era ruim. Os dois tiveram três filhos e mantinham uma cumplicidade que alimentou a carreira de ambos. Elizabeth, não raro, atuava como editora das obras de Savage, e ela própria publicou nove livros ao longo da vida. O autor, no entanto, não deixou de registrar as dificuldades de manter-se no armário em suas histórias que, assim como em Ataque dos Cães, abusam dos estereótipos de masculinidade viril para explicita a hipocrisia do interior americano no século XX.
O ambiente é familiar ao autor, mas não de uma maneira positiva. Quando tinha apenas 2 anos de idade, os pais se divorciaram e ele foi morar com a mãe em um rancho em Idaho. Aos 5, mudaram-se para a fazenda do padrasto, em Montana, mas nunca se sentiu pertencente àquele ambiente. Sua filha, inclusive, revelou que o pai odiava Montana e tentava ficar o mais longe possível de lá desde que foi embora, aos 22 anos. Não à toa, nas narrativas idealizadas por ele, a cidade não é pintada com bons olhos e é cenário recorrente de dinastias disfuncionais com caubóis influentes que esbanjam masculinidade tóxica.

Após a morte de sua esposa em 1989, o autor viveu brevemente em Seattle e São Francisco, antes de se mudar para Virgínia para ficar perto de sua filha. Em 2001, o Montana Book Festival apresentou um painel sobre Savage e seu trabalho, mas Savage – então com 86 anos – não compareceu. Thomas Savage morreu em 25 de julho de 2003, aos 88 anos.

 

Carreira de escritor

Em seus obras, tratou de temas de provincianismo fatal e da claustrofobia das fronteiras sexuais. Ele usou seus romances para denunciar o fanatismo que considerava arraigado nas cidades e fazendas onde foi criado. Savage modelou livremente vários tipos de personagens em sua própria família. Sua amada mãe inspirou o caráter de uma jovem mãe culturalmente refinada, impulsionada pelo isolamento ao álcool. Sua avó inspirou o personagem de uma matriarca com mão de ferro. Seu padrasto Charles Brenner inspirou o personagem de um fazendeiro honesto, mas de raciocínio lento. Seu tio William Brenner inspirou o personagem de um peão manipulador e calculista. Savage escreveu a si mesmo em muitos de seus romances no papel de um forasteiro, inadequado para a vida no rancho. Esses personagens aparecem em muitos de seus romances sob diferentes nomes e diferentes circunstâncias.

Savage publicou sua primeira história, “The Bronc Stomper”, em 1937 na Coronet sob o nome de Tom Brenner. Annie Proulx observou que a história era “normal, exceto por seu assunto incomum”. No entanto, o pagamento de setenta e cinco dólares que recebeu o encorajou a tentar escrever um romance. Em seus dois primeiros romances, ele introduziu o tema de uma dinastia de rancho disfuncional que aparece em todas as obras do autor. The Pass (1944) foi dedicado a sua mãe e ambientado no Vale do Lemhi, Idaho. O pagamento adiantado de $750 pelo manuscrito confirmou sua crença em sua carreira como escritor. Seu segundo romance, Lona Hanson (1948), continuou a história e provou um sucesso financeiro inigualável, sendo adquirido os direitos de adaptação da obra pela Columbia Pictures que pagaria US $ 50.000. O filme programado para estrelar Rita Hayworth e William Holden nunca foi feito, mas o pagamento trouxe ao autor uma boa segurança financeira.

Em 1967, The Power of the Dog, de Savage, foi lançado. A trama se concentra em dois irmãos, o simples mas honesto George Burbank e o frio e malicioso Phil Burbank. Os críticos consideraram o melhor romance de Savage. O livro recebeu críticas favoráveis. No New York Times Marshall Sprague escreveu que o autor tinha “uma mão mágica” com personagens que têm “uma inevitabilidade clássica”. Em 2021, a adaptação para o cinema da obra pelas mãos de Jane Campion e estrelando Benedict Cumberbatch no papel de Phil teve sua estreia no Festival de Cinema de Veneza, onde ganhou o Leão de Prata de melhor diretor.

Em 1977 Savage publicou I Heard My Sister Speak my Name em 1977. A inspiração para a obra teria sido um telefonema que recebeu informando que ele tinha uma irmã mais velha, Patricia Savage Hemingway. Patricia, a primeira criança nascida dos pais de Tom, foi dada para adoção. Tom não conhecia Patricia e os irmãos finalmente se conheceram em 1969. Tom e sua irmã se tornaram amigos íntimos e sempre riram de suas semelhanças, incluindo que eles fumavam os mesmos cigarros, gostavam da mesma cerveja e tinham as mesmas gargalhada profunda.

Seu último romance, The Corner of Rife and Pacific, foi indicado ao PEN/Faulkner Award e recebeu o Pacific Northwest Booksellers Association Award em 1989.

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